quarta-feira, 22 de julho de 2020

Senta que lá vem filme : O VALOR DE UM HOMEM






O filme francês "O Valor de um Homem" (La Loi du Marché, de Stéphane Briz; 2015) mostra a peregrinação de um homem, já contando com mais de 50 anos, para recolocar-se no mercado de trabalho. Ele é casado e tem um filho deficiente de seus 12 anos.

No início da trama, aparece o personagem em entrevista com um agente de recolocação, em que questiona o porquê de seu encaminhamento para um curso de aperfeiçoamento e estágio de alguns meses, para então tais conhecimentos ser tidos como obsoletos pelas empresas contratantes. Curioso é que as cenas tinham uma câmera estática e deixava, por muito tempo, a cena fluir pelos diálogos e pelas expressões, de modo que a fala, às vezes persistente, e até repetitiva, mantida num mesmo ponto de argumento, era muito menos dinâmica e bem mais pobre do que a mudança sutil, mas contínua, dos semblantes nesse mesmo intervalo de tempo. O ator Vincent Lindon tem uma atuação preciosa!

No decorrer do filme, a fala do personagem vai diminuindo e entrando para si, deixando cada vez mais espaço à expressão, como nos ocorre quando somos submetidos a desventuras reiteradas e sem uma tábua de salvação ao alcance de nossas vistas. De fato, a gente vai guardando a fala, por preguiça ou medo ou falta, ainda que o silêncio denuncie muito mais pelos gritos da expressão corporal. E os olhos...esses são os mais proeminentes oradores.

Há, no filme, cenas fundas sobre a conscientização dessa precariedade, da perda da força e a rendição. Eu destacaria, dessas cenas, a conversa com a moça do banco, a negociação sobre a casa e a aula de dança, entre tantas primorosas. 

Enfim, toda a perda de autoestima, da graça que a falta de dinheiro e ou de perspectiva impingem ao homem comum, deixando nele um halo triste no corpo e na alma, é mostrada na história, no conjunto, por meio de um sistema cruel e desumano que devora, como mar em ressaca, as pessoas, o personagem. E isso sendo paulatinamente imposto como o "normal" da vida. 

Ele não é Daniel Blake... Poucos são, poucos somos.

Filme tocante.


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