Houve o prelúdio do sexo. Suados, cansados: "noite quente, hein!" - riem. O corpo dela jogado na cama é quase tão invadido pela lua quanto a janela que o astro iluminado vara. Nua, muito nua. Olham-se ela e ele e não veem senão o vulto de cada qual embranquecido pela ofuscação daquela bruma prata na escuridão do quarto. Ele, de repente, tomado pelo desejo de fazer o caminho de volta, põe seus dedos a andarem por direção reversa, partindo das coxas aos joelhos úmidos da mulher. Ela se arrepia e completa maliciosa: "quente de arrepiar". Solta um suspiro vindo de suas profundezas maculadas desde então. Quando abre os olhos contempla seu homem, em pé, junto à janela, abraçado nu ao violão na contraluz lunar. O gemido da viola toma o silêncio do lugar e a voz mansa do repentino trovador trilha o caminho dos acordes, quase em sussurro. Ela solta um gemido e estremece ao vê-lo tão absorto sobre o instrumento musical, tirando deste, com toda a delicadeza, uma outra forma de gozo. Ela pode sentir o calor de seus braços macios abraçando o corpo do violão como fizera pouco antes ao seu, quando buscava com os mesmos dedos a música gutural, bramida, percorrida entre pelos, lábios. De súbito, A viola cessa dando lugar à harmonia de outro êxtase, o do corpo do homem deitando, de novo e agora sombra, sobre o corpo de carne ardente dela. Intermezzo. Ela acende outro fumo - o corpo sem delírio é pouco para a longa serenata - e, juntos, outra vez, partem para outras alturas. Extenuados, enfim, da viagem, a lua os recebe, músicos viajantes, tendo seus corpos pareados no leito de seu rio prateado. Ainda riem, falam de sonhos, ideais e buscam suas mãos que se procuram no ar, imitando suas almas. Encontram-se as mãos e almas para se entregarem os dois vencidos pelo sono da letargia do prazer.
É noite ainda e, antes que esta ceda seu lugar ao dia que não se demora, repousa uma lua no céu, dois amantes jazem num leito agora em sossego e, no mundo, o amor vigia em silêncio.
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