quinta-feira, 4 de setembro de 2014

De amores e espumas



"- Para você, como se manifesta o amor?

Foi esta a pergunta que ela lançou a ele, assim, de repente, de frente para uma caneca de chopp. E ele, meio sem jeito, esforçou-se para responder, buscando inúmeras palavras que carregavam muito mais sentimento do que significado. A explicação, coitado, foi uma catástrofe, porém, havia muita verdade naquele seu não dizer.

Ele a amava muito mais do que ela imaginou até ali. Ele que nem era bom com palavras e que odiava essas demonstrações de “sentimentalismos” estava diante dela, tentando exprimir-se, esforçando-se para alcançar aquela mulher de temperamento tão singular.

Ela não ouviu metade das palavras ditas e, mesmo assim, aquele gesto tão verdadeiro e esforçado fez com que brotasse nela um remorso infinito: trazia consigo um indisfarçável regozijo de vê-lo daquela forma, finalmente, sangrando.


E quanto mais ele dizia e vasculhava seu limitado vocabulário, mais absorta estava ela em busca das palavras bem colocadas que não revelassem a ideia exata de amor que bem conhecia dentro de si, que talvez jamais tenha dedicado a ele e cuja definição, certamente, ele também lhe cobraria em contrapartida à sua inicial pergunta. Achou, enfim, a palavra certa e definitiva – era boa nisso - e então, por alguma espécie de amor, mentiu." 

(trecho das crônicas "Luas de Sabina"; Maria Angélica Taciano)

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