"- Para você, como se manifesta o amor?
Foi esta a pergunta que ela lançou a ele, assim,
de repente, de frente para uma caneca de chopp. E ele, meio sem jeito, esforçou-se
para responder, buscando inúmeras palavras que carregavam muito mais sentimento
do que significado. A explicação, coitado, foi uma catástrofe, porém, havia
muita verdade naquele seu não dizer.
Ele a amava muito mais do que ela imaginou até ali.
Ele que nem era bom com palavras e que odiava essas demonstrações de “sentimentalismos” estava diante dela,
tentando exprimir-se, esforçando-se para alcançar aquela mulher
de temperamento tão singular.
Ela não ouviu metade das palavras ditas e, mesmo
assim, aquele gesto tão verdadeiro e esforçado fez com que brotasse
nela um remorso infinito: trazia consigo um indisfarçável regozijo de
vê-lo daquela forma, finalmente, sangrando.
E quanto mais ele dizia e vasculhava seu limitado vocabulário,
mais absorta estava ela em busca das palavras bem colocadas que não revelassem
a ideia exata de amor que bem conhecia dentro de si, que talvez jamais tenha
dedicado a ele e cuja definição, certamente, ele também lhe cobraria em contrapartida à sua inicial pergunta. Achou, enfim, a palavra certa e definitiva – era boa nisso - e então, por alguma espécie de amor, mentiu."
(trecho das crônicas "Luas de Sabina"; Maria Angélica Taciano)
bonito
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