sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Despida




Não é de roupas que eu me dispo
O que me faz nua é a minha história,
verdade meio duvidosa
de crenças que carrego,
o meu medo de fantasma
e do atraso de minhas regras.

A minha nudez escancara (sem vergonha)
a minha coragem 
e a insegurança  infinita
de ter feito alguma coisa errada
e ficar pensando mil modos
de sobreviver depois das perdas

Já meu nu não tão exposto
anda muito além do que mostra,
vem de uma louca mistura,
de dores, alegria, revolta
Tem a força das grandes lutas
e a fragilidade da derrota.

Eu confesso que sou nua,
se estou cambaleante,
à beira do precipício,  
por um amor, uma dose a mais 
de whisky,
porque o telefone não tocou.

Sou nua no desespero 
assumido,
no feminino da insensatez,
nua na teimosia 
de começar tudo 
outra vez.

Não é de roupas que eu me dispo,
se quer mesmo minha nudez.
Ela não se faz de despojos 
de saias, meias, sapatos, 
calcinha,   
corpo lasso na cama.

Para ter minha nudez 
sem segredo 
há de ter uma certa empatia,
ser meio fêmea pelo avesso.
Seguir, mesmo com medo,
por ruas desconhecidas.


Então, ainda uma vez, eu lhe mostro:
não é de roupas que eu me dispo.
Apenas sem roupa,
sou apenas uma mulher sem roupa,
que depois que ama se veste,
fecha a porta e vai.
Esquece.

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