Um jardineiro me ama
Floresço
Nesta estação de meu tempo
Que não é de florir
E não sabe que, por ele
Rodopio em êxtase
No jardim secreto de meu desejo
Girando minhas saias
Alvas como pétalas
De tarde, pousada jardineira ao poente,
Da janela sou eu quem busca
No canteiro, a rubra orquídea
Que, com os olhos, ele oferta
De suas mãos ardendo de terra
Numa rajada
Sou levantada ao vento
Como os pelos
E a cortina que em minha pele desliza
De estremecida azaléia
E é sob cânticos de anjos e trombetas
Que, à noite, desabrocho
Em louvor daquele que repousa
Na folhagem de meus sonhos
Espargindo orvalho em meus lençóis
Passarada... Mais um dia
Meio dia
Lá vem ele
Passa por mim e se tocam
Nossos olhos calcinantes
Que falam o nosso silêncio
Ele nem sabe, jardineiro descuidado
Que, com seus olhos fragrantes,
Semeia um poema
E colhe uma flor nascida
Em florada extemporânea
Sob meu vestido florido
* Foto: Anete Lusina
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