terça-feira, 6 de setembro de 2022

Jardim no Amor



                                           

 


Um jardineiro me ama
Floresço
Nesta estação de meu tempo
Que não é de florir

Ele passa e, sem palavras, me diz
"Bom dia, alegre margarida"

E não sabe que, por ele
Rodopio em êxtase
No jardim secreto de meu desejo
Girando minhas saias
Alvas como pétalas

De tarde, pousada jardineira ao poente,
Da janela sou eu quem busca
No canteiro, a rubra orquídea
Que, com os olhos, ele oferta
De suas mãos ardendo de terra

Numa rajada
Sou levantada ao vento
Como os pelos
E a cortina que em minha pele desliza
De estremecida azaléia


E é sob cânticos de anjos e trombetas
Que, à noite, desabrocho
Em louvor daquele que repousa
Na folhagem de meus sonhos
Espargindo orvalho em meus lençóis

Passarada... Mais um dia

Meio dia
Lá vem ele
Passa por mim e se tocam
Nossos olhos calcinantes
Que falam o nosso silêncio

Ele nem sabe, jardineiro descuidado
Que, com seus olhos fragrantes,
Semeia um poema

E colhe uma flor nascida
Em florada extemporânea
Sob meu vestido florido




*  Foto: Anete Lusina








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