Misturei açúcar, canela e tristeza
no bolo que hoje preparei,
vendo que na cozinha apenas resta
da nossa última festa,
além do silêncio, vestígios
de manteiga e ausência.
A fumaça do café, no fogo os estalidos
nada aquece o tanto frio
do que foi na casa o lugar da alegria
e, na boca, o governo da orgia
dos sentidos.
A massa e a mordida à mesa, e nesta,
comer do outro a amorosa oferenda
eram um deleite à nossa cozinha festeira.
Um bom bocado de poemas e beijos
(Como pudemos esquecer da mais simples receita!)
E parecia tão exata a medida
do doce que nos saciava:
azeite, aniz, açúcar e amor;
tudo em ponto de bala
Não sei por que desandou...
E havia aquele girassol
que da janela espreitava
o segredo de nossa culinária,
os sonhos com que a gente se lambuzava.
Lembra?
Sem gosto, sem nós, também se foi.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário