Antes mesmo
de deslizar no pão a manteiga
você me disse
que amava outra pessoa
O mundo deu uma volta
e, no ritmo lento e circular
da colher na xícara
e das horas na parede
tudo ao redor girou
E a nossa história clandestina
que nunca foi mundo de toda palavra
cerrou minha boca
amarga de café
na mesma amargura
de meus olhos secos
Depois você voltou
Outra volta no mundo se deu
Vi tão frágeis as suas certezas
enredadas nas dúvidas de sempre
como roupa reformada
das dúvidas antigas
E nós a ocuparmos ainda
o lugar das ausências oscilantes
em nossa mala
de retornos e saudades
E segue o mundo a girar
às voltas com a mesma história
numa toada que toca
os mesmos versos
de um redondo poema
sem fim
Sem fim nem começo
faz-se e desfaz-se
essa mandala de giz
que, na roda do tempo,
remoinha a elíptica ciranda
desse nosso sentimento
como poeira de chão
varrido pelo vento.
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