quarta-feira, 27 de julho de 2022

Mandala de Giz

 





Antes mesmo 

de deslizar no pão a manteiga

você me disse 

que amava outra pessoa


O mundo deu uma volta

e, no ritmo lento e circular 

da colher na xícara  

e das horas na parede 

 tudo ao redor girou 


E a nossa história clandestina

que nunca foi mundo de toda palavra

cerrou minha boca

amarga de café 

na mesma amargura 

de meus olhos secos 


Depois você voltou 

Outra volta no  mundo se deu


Vi tão frágeis as suas certezas 

enredadas nas dúvidas de sempre 

como roupa reformada 

das dúvidas antigas 

E nós a ocuparmos ainda

o lugar das ausências oscilantes

em nossa mala

de retornos e saudades



E segue o mundo a girar

às voltas com a mesma história

numa toada que toca

os mesmos versos

de um redondo poema

sem fim


Sem fim nem começo

faz-se e desfaz-se

essa mandala de giz

que, na roda do tempo,

remoinha a elíptica ciranda

desse nosso sentimento

como poeira de chão

varrido pelo vento.





















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