quinta-feira, 2 de maio de 2019

Se dá um riso, dá abrigo*





Hoje fui chamada de puta por um menino de rua. Ele vinha dentre vários meninos e se sentiu ofendido ao me ver mexendo na bolsa para guardar o celular. Disse que não queria me roubar, "sua puta".
Mal sabia ele o que defendo. Mas eu tive medo, sim, que eles pegassem o celular de minha mão. E essa realidade de todas as agressões sentidas por ambos me deixou muito triste, neste país que passou a ser só tristeza.
Dez passos à frente, um estrangeiro, uruguaio, maltrapilho, vendendo arduamente suas miçangas me presenteou com um anel de lata e o direito a um pedido e me disse gentilmente que eu era uma linda brasileira, a mais bonita brasileira. Só porque fui gentil em parar para ouvi-lo.
São tão simbólicos esses acontecimentos!
As crianças e estrangeiros, os pobres em geral, tão abandonados que um gesto pode ser um afago ou uma facada. Tudo é abandono, todos nós em abandono.
Eu queria ter dito palavras gentis ao menino que me chamou de puta...

*Referência à música Cruzada, cantada por Beto Guedes; nela, era o beijo dar abrigo...Que tudo seja motivo de abrigo

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