sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Hilda e Lourdes

Hilda tem mais recato
com sua franja negra
sobre os olhos rasgados de índia.
Dá um riso faceiro
de seu batom vermelho mal passado,
quando o assunto são as partes
de baixo
dos desejos de uma mulher-menina.

Lourdes é exuberante,
dona de si, riso fácil.
Olha de frente
a dura vida
e mesmo assim a quer!
Em seu porte altivo de rainha negra,
carrega o talhe de lutas,
olhos que não desviam,
um corpo seu contra o estigma de ser mulher.

Hilda fala baixo que não sabe dançar,
mas se inscreveu
na aula de dança.
Lourdes é pé-de-valsa.
Desliza toda a noite nos braços dos varões.
Lourdes chega em casa com o dia amanhecendo,
descalça.
Hilda dorme em rendas com seus cabelos em trança

Hilda e Lourdes são desejo e ação.
Vida e sonho, Lourdes, Hilda.
Mal se falam, tomadas pela lida
do salão.
Hilda acredita no sonho e na beleza,
escondida,
que brota do rouge imperfeito de seu batom.
Lourdes pouco acredita,
toma o que pode nas mãos,
com olhos, dentes, riso,
com a força de sua pele marrom.




(Foto: Sérgio Larraín; "Los siete espejos de Valparaíso".)














Nenhum comentário:

Postar um comentário