domingo, 20 de abril de 2014

Só Maria*



E agora, Maria?
A festa acabou e você nem foi a ela
Na rede social você não é curtida
Sua crua verdade não é compatível 
com o programa da felicidade virtual
Seus amores se foram
Seu casamento há muito se apagou
Não há mais sexo e desejo, nem palavras de amor.
Os dias são mudos, 
as noites, escuras e desertas
Não há amigos e nem histórias para contar; 
vivê-las, então, nem pensar!
Sua suposta beleza está murchando 
e seu tempo esgotando
E você olha com olhos aturdidos
e chora sem ombro para se amparar.
Tentou ser outra mulher, mudou a cor dos cabelos
De nada adiantou: o vazio é policromático.
Se enche de perfume e delírios. Pra que?
Não tem para onde ir, nem com quem ir
Ninguém te percebe, a esperança já se finda
E os sonhos quase não os há
Contudo, há o quase, Maria
O que te faz persistir
E você continua, Maria
Sempre sozinha, Maria
Sempre, Maria
Sempre Maria

(* Uma homenagem ao poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade)

2 comentários:

  1. Adorei este, o meu preferido! O mais despojado de amarras, sendo quase 100% ele mesmo. Muito lindo!

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    1. As amarras são tantas e tão apertadas, às vezes, que a única saída é desamarrar para continuar a ser. É a minha preferida também. Beijos.

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