
E você me diz que eu vivo num exílio
muito próprio e que, exilada assim, vez por outra, parto em busca de um mundo
proibido à procura da ventura que, num sítio permitido, eu jamais alcancei.
Dessa forma, ando no limite do tudo ou nada, expondo-me, sem qualquer rede de
proteção, ...
E dá de a gente só se encontrar nesse
exato intervalo em que um busca o chão e o outro quer deixá-lo. Enquanto eu invento
exílios para me livrar de raízes, você mostra seu cansaço de tanto voar sem ter
para onde voltar. Insisto em tentar mostrar que você já é tudo o que eu adoro,
que não me importo com o homem por vir por aí, mas vejo que segue convicto em
seus planos e metas de se estabelecer, ignorando meu esforço de me desfazer de
todos os limites só para estar a seu lado já.
Na verdade, nós amamos a imagem um do
outro cada qual à busca de seu próprio reverso, querendo no outro justo aquilo que
os dois querem deixar para trás. E, assim, são raros os nossos momentos de
união, quando sofregamente ardemos a chama num jogo de talvez e não.
Às vezes, quando uma lucidez sombria
o abate, com amargura imagina como seria
se não tivesse deixado o seu chão. Para acompanhá-lo em sua desdita, eu lhe digo
que, talvez, fosse você mais feliz, escondendo para mim a dor da certeza de que
eu não."
(Trecho das Crônicas "Luas de Sabina"; Maria Angélica Taciano)
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