domingo, 27 de abril de 2014

"Maria Angélica Não Mora Mais Aqui" (*)

Ando com uma estranha saudade de mim. Não é aquela saudade de alguém que se tenha conhecido e convivido e que, agora, lhe falta. Não. É aquela saudade nostálgica daquilo que sequer se viu. Como a saudade de uma história não lida que alguém só comentou.
Nunca senti que eu tenha realmente existido. A mulher dentro de mim assistia ao desempenho de outras mulheres – sim, no plural, porque eram, às vezes, várias a cada época.
Descrevo a sensação de alguém que via através de uma lente, de uma vidraça, um escafandro.Uma mulher por fora contemplada por outra mulher de dentro.
Agora a mulher de fora se rompeu e, aos poucos, como uma infiltração que se alastra, vem à tona a mulher de dentro.
E como ser assim tão nua? Como será essa mulher, sem defesa, sob os efeitos das reações externas?
Maria Angélica vai-se mudar, vai ficar solta no mundo...
E vai haver o tempo de olhar no espelho e constatar a imensa e inexorável verdade: não, Maria Angélica não mora mais aqui.





* Referência à banda de rock da Vila Madalena SP de mesmo nome e que fez algum sucesso, nos anos 80.

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