terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Sfumato







Estagno dentro de meu carro, 

O que chamo de meu pequeno universo

Sem coragem de descer àquele lugar 

Ao qual costumam chamar lar


Não sei ao certo quando perdi  a hora de sair e de entrar

Neste estado de não ser consciente

O que antes era o mesmo 

Mas inconsciente


Um adeus a não sei quê

Tudo em mim foi efêmero

Constante, esse estranhamento do ordinário da vida 

Ao redor dos dias, das praças e seus canteiros recortados

E os amores, o cachorro e o carro... E dentro deste, meu refúgio


Não vejo nada que me diga respeito 

Estou em estado avançado 

De evaporação 

Não quero pensar

Ótimo! Sempre quis ser vento

(Vento no deserto em redemoinhos na areia)

O tempo


Talvez se eu dormisse e acordasse não sendo eu

Mundo novo? 

E pouso meu olhar, estranho, sobre as coisas

Espantada como um bebê vindo à vida


Não consigo me conectar

Tentando em vão me agarrar a um cordão umbilical

Que flamula ao ar como bandeira

Num país que desconheço

Não nasci de ventre de mãe?


A não ser, em mim, há esta mulher 

Que passa ao largo das coisas

Olha de longe e vem como miragem derretida 

Em seu passo sinuoso de promessas

E se desfaz num sopro morno de ausência 

E de despedida


A despedida 

Esta já me é nascida no encontro

No contato que, de medo, se adia

E dói mais em mim

Fica.


  

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