Não vou escrever
um poema de despedida
Embora sejam de despedida
as palavras que na página pousam
a dizer dos que agora voam
Aos que foram e eu nem conhecia
sem ter tido a vez de reter
de sua boca o fogo riso
em meus olhos de alegria
A esses este poema
Partiram, sem despedida.
Para aquela que teria
a palavra salvadora
no instante definitivo
da mais dura agonia
A ela este poema
Agonizou, sem despedida.
Para aquele que romperia
o silêncio com cantigas
de cifrada sabedoria
sobre o insoluto enigma da vida.
Também a ele o poema
Silenciou, sem despedida.
Este não é um poema
que trate da despedida.
dama definitiva sufragada
de nosso adeus e poesia
Este é um poema de ausências,
do que falta no vazio
Sem qualquer cerimônia
a dar reverência à memória
Os músculos que se contraíam
Na dura mecânica do choro
Tremam o corpo num abraço
sem precisar dos braços ao adeus
Pois, por mais que insista a partida,
Este não é nem será
- posto que não mais há -
Um poema de despedida
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