quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Os Encontrados



Tinham tudo para dar certo. O encontro era algo  predestinado, sabiam. 

Apenas não conseguiam transpor os obstáculos à consumação desse encontro.

Era só uma questão de não conseguirem passar pelo mesmo caminho. Não acertarem os relógios. Um pequeno detalhe de não terem as oportunidades e as condições disponíveis. 

Mas sabiam que eram almas encontradas.

Apenas lhes impediam os compromissos quase inadiáveis, o perigo das palavras tão escassas na carestia dos diálogos. Faltavam as vontades às pernas. Faltava a coragem para se vestirem da verdade não inventada e se encararem... 

Mas se sabiam destinos cruzados, só circunstancialmente sem os dedos entrelaçados.

Costas dadas à porta de saída, a bolsa jogada ao sofá, as chaves de novo pousadas na cabeceira, o propósito, o propósito... Apenas um  tanto a mais de paciência era necessário. Encontrados já eram, afinal.

No silêncio de cada sala, a respiração de cada qual tem a mesma exiguidade, e só os vagos  ruídos longínquos, vindos  das ruas de fora, trazem para dentro o que é de fora, o concreto de algum lugar distante de uma outra e outras vidas se fazendo. 

Uma notificação sonora no aparelho  desperta-os do transe da fracassada ousadia. 

Voltam ao teclado como se fosse a primeiira vez. Suas luzes se reacendem, religados, de novo ligados.

Voltam seus olhos às telas, ao amor exato, intocado e de almas encontradas.

As juras da paixão se confirmam, sôfregas e mútuas. O desejo exasperado de novo como todo desejo que espera ansioso pelo momento incerto do futuro encontro.

Paciência era o nome que davam a isso. 

O importante  é que sabiam. E não era pouco: eram mesmo destinos encontrados, nascidos um para o outro.

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