não um tal que venha
de minha boca coberta
não um tal que venha
de minha boca coberta
Tinham tudo para dar certo. O encontro era algo predestinado, sabiam.
Apenas não conseguiam transpor os obstáculos à consumação desse encontro.
Era só uma questão de não conseguirem passar pelo mesmo caminho. Não acertarem os relógios. Um pequeno detalhe de não terem as oportunidades e as condições disponíveis.
Mas sabiam que eram almas encontradas.
Apenas lhes impediam os compromissos quase inadiáveis, o perigo das palavras tão escassas na carestia dos diálogos. Faltavam as vontades às pernas. Faltava a coragem para se vestirem da verdade não inventada e se encararem...
Mas se sabiam destinos cruzados, só circunstancialmente sem os dedos entrelaçados.
Costas dadas à porta de saída, a bolsa jogada ao sofá, as chaves de novo pousadas na cabeceira, o propósito, o propósito... Apenas um tanto a mais de paciência era necessário. Encontrados já eram, afinal.
No silêncio de cada sala, a respiração de cada qual tem a mesma exiguidade, e só os vagos ruídos longínquos, vindos das ruas de fora, trazem para dentro o que é de fora, o concreto de algum lugar distante de uma outra e outras vidas se fazendo.
Uma notificação sonora no aparelho desperta-os do transe da fracassada ousadia.
Voltam ao teclado como se fosse a primeiira vez. Suas luzes se reacendem, religados, de novo ligados.
Voltam seus olhos às telas, ao amor exato, intocado e de almas encontradas.
As juras da paixão se confirmam, sôfregas e mútuas. O desejo exasperado de novo como todo desejo que espera ansioso pelo momento incerto do futuro encontro.
Paciência era o nome que davam a isso.
O importante é que sabiam. E não era pouco: eram mesmo destinos encontrados, nascidos um para o outro.