Quando tudo isso acabar, vou fazer como aquela mulher do episódio de Black Mirror, que abandonou as redes sociais totalmente.
Vou ser como o Kaspa Hauser libertado, Thoreau na integração essencial com a vida; saber descrever o sabor de sentido no exato momento da mordida na pera como no filme dos anjos. Reverenciar os sulcos na pele, a vitória sobre a exiguidade do tempo.
Mas, se tem uma coisa que abolirei logo de início é de não dizer o que é importante face a face, num bem claro sim ou num bem claro não. Nunca mais uma conversa interrompida, inacabada na covardia de dois sinaizinhos azuis, a indelicadeza da fala sem ouvidos.
E que votos de Feliz aniversário deixem de ser esses vazios profundos, perdidos numa centena de milhares de mensagens de meio milhão de amigos intocados com seus dedinhos imaginários em riste. E que nunca mais os olhos sejam sugados por luz metálica roubando presenças. As revoluções, por vezes tão necessárias, parem de ser sinônimo de indignação feita e sentida só no computador. E que a mentira não mais seja tanto faz verdade. E nenhuma nudez caiba apenas na palma da mão.
Finalmente, e acho que é a maior graça a alcançar, é que o medo e o "self" deixem de ser senhores de tudo.
Que eu sobreviva a isso, se não na carne, poesia, poeta.
Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário