A doçura da melodia não esconde a melancolia pela imolação de escolher, entre tantas perdas, a menos dolorosa, e Celso Viáfora, em sua lindíssima canção 'Não Vou Sair", declina com mestria esse sentimento.
Vem dos tempos duríssimos em nosso país, os anos de chumbo, a canção que credita à inigualável beleza natural da pátria um acréscimo de razão aos sacrifícios de amor, de vida, de futuro para se ir ficando, ficando por ela.
É difícil, de fato, a qualquer um partir quando os olhos batem no luar e a lua vai bater no mar. É poesia falando com poesia. A nossa terra é uma poesia!
Sempre senti o sentimento dessa música, mesmo quando era uma canção que, então, para mim, falava de tempos remotos. E mesmo assim doíam as dores da terra sofrida, dos amores adiados, das vidas perdidas, das chagas que pessoas tão próximas a mim presenciaram e tiveram.
Hoje olho de minha janela, privilegiada de alturas, esse céu anoitecendo, em tons de azul e alaranjado e essa estrela solitária piscando como um código Morse. E a tal canção de Viáfora já não me diz de passados.
Fito essa estrela mensageira que, como a lua convidativa da canção, vem nos dar razão para ficar. Ficarmos em casa, ficarmos em nós, ficarmos vivos, ficarmos por ela.
E, tão cansada, nossa terra pátria generosa afaga-nos ainda com seu belo sorriso doente como se deixasse de pedir socorro para si mesma e nos acalentasse deste nosso angustioso presente.
Tão bonita, tão violada essa tão gentil senhora com seu formato geográfico de um enorme coração! Adoeceu em seu corpo, em seu espírito, em seu ventre e ainda nos concede, com sua graça, o bálsamo de um ínfimo esquecimento.
Mas me lembro. Lembro de te pedir perdão, o perdão de todos os filhos seus que te levaram a isso. E me ponho à janela a contemplar o céu, agora escuro de uma escuridão meio triste. Nele a estrela já não há, não há o luar, nem lua batendo no mar, mas por você eu vou ficando... viva.
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