terça-feira, 30 de julho de 2019
Vice versa
Se o avesso virasse o direito, o que veriam do meu avesso agora direito seriam muitas quinquilharias como pregos, cetro, vidros de garrafa estilhaçados, garrafas meio cheias, margaridas plantadas em vasos de barro, sóis fortes e dias melancólicos, noites ínfimas, felizes e estreladas, cadeados velhos, porta fechada, molho de chaves em desuso, uma luneta apontada para o espaço, binóculo voltado para a janela do vizinho, uma feia voraz, um coelho assustado, um relógio parado, outro, enorme, girando ponteiros a altas velocidades, uma janela para uma estrada, uma corrente envolvendo uma caixa escrita 'fantasmas", mulheres desejosas, uma fonte, um menino comendo pão, um denso lago de areia movediça, um pássaro preto, um vale de borboletas, uma trilha serpentina entre muitas montanhas, uma praia branca e um céu azul, uma festa e uma guerra, um homem nu com os braços abertos e o rosto coberto, um hímen escorrido numa perna de velha, uma rede na brisa, uma gaita e uma cítara, uma fruta amarela na mão, vestido azul, lenço vermelho, uma casa rústica, uma linha de trem, o limiar de um abismo, um copo vazio diante de uma boca com sede, asas...
Do lado direito, agora avesso, haveria algo que se parecesse com paz e beleza, mas que não era.
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