Ele é feroz e está sempre preparado para o ataque e
autodefesa. É mortalmente perigoso em seu habitat, mas capitula
facilmente fora dele. Se apanha a presa,
no entanto, devora-a sem piedade.
Ela tem um tempo curto e nem sabe que deveria vivê-lo
em sua intensidade, mas o faz. É frágil, colorida, leve e inconsequente.
Ela pousou sobre ele. A cena é meio disforme e estanha
no princípio, mas, aos poucos, vai-se tornando bela pelo paradoxo colossal das
duas peças da combinação.
Ele repousa e aceita aquele afago e deixa-se tocar,
também, pelo calor do sol, da água morna do rio. Tudo está quieto... Seus olhos
se fecham, mas não trazem a escuridão que lhe permita a entrega ao descanso.
Ela ainda está pousada sobre ele e uma leve brisa logo
agitará suas asas e a levará a outro voo. Nunca se saberá se ele perceberá a
sua partida: ela tão delicada sobre uma pele tão endurecida. Nunca se saberá se
lhe será indiferente a despedida ou se indiferente será qualquer tentativa de
fazê-la ficar.
Ele continuará imóvel; seus olhos não abrirão, mas
brilharão, talvez, uma lágrima. Talvez.
Ficará ali,
aceitando e sorvendo o calor do sol, a água morna... Continuará crocodilo por muito
ainda, até o fim.
Ela, a qualquer tempo, pouco tempo, já não será;
atingirá, enfim, sua metamorfose e se tornará flor ou luz.
(junho/2013)
Imagem: foto de Mark Cowan, no Amazonas - Brasil.
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