quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Maria das Dores, abençoada.


De repente, ela sentia a dor conhecida, 
tal espasmo vindo do mais fundo de suas entranhas, 
embora no seu corpo carne essa sensação não se fizesse presente
nem no ventre, nem nos músculos a expulsar um feto.
Ela paria, agora, um outro filho, 
esse gestado em um continuado sentimento, todo dia fecundado, todo dia, 
desde aquele encontro do inaugural contato de olhos, 
desde os abraços renitentes de ninar e proteger, 
da boca a sugar seu leite de mãe, 
desde o ensinar os passos de andar...
Ela paria novamente. 
Era a dor conhecida do parto, 
do espanto da vida a revolver e renovar. 
Da mãe do filho nascia a mãe do pai.



(Foto via Mia Couto)

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