terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Não me passa a mão

Você esse homem
que venera os passados
encontros de veteranos
da escola de formação

Nem vê que meu passo
um tanto requebrado
se inspira nas coquetes
do teatro rebolado

E você que ama tanto o passado
não ousa me passar a mão

Você esse homem
que cultua retratos
valores antiquados, cego,
segue os ritos da religião

Não vê que minha devoção
de lhe querer sem recato
tem um tanto de pecado
mas muito de redenção

E você segue cultuando passado
nem ousa me passar a mão

E nesses seus olhos
em que o tempo replica
a história morta, remota
e nem tão bonita

Nem nota que trago a pena
de tanto querer e posso
nas linhas de simples poema
fazer um presente de mim e você

Mas você tão parado amando passados
nem ousa nem tenta me passar a mão.






sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Entardecências

Há um silêncio perturbador no cair da tarde
que abre num lugar misterioso pórtico
e se estabelece quase uma entidade
de uma bruma envolta em cio letárgico

E toda contaminada dessa alquimia,
disputam em mim vergonha e desejo
mas me rendo à algazarra da solitária folia
tremendo de vontade e  de pejo

meus dedos que então serviam ao teclado
na construção de similar poesia
como libélulas levíssimas voejam
na dança de odores dessa lúbrica magia

E na maciez do escuro veludo
se descobre flor régia e vitoriosa
mesmo florescida sob tremor e susto
Flutua tranquila em águas silenciosas...

É passado o estado de frêmito e assombro.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016