Mais uma noite agônica de ela fingindo não esperar, esperando. E ele, depois da tempestade da manhã do dia desta noite, de novo não volta para casa.
Ela, seguindo o roteiro de sua raiva e dor, corre a preparar seus mesmos delitos, surdos, secretos, como um afogado buscando livrar-se de seu sufocamento no fundo da água.
Ele, para salvar sabe-se-lá-o-que a essa altura, telefona avisando de seu atraso, atrasado, firmando sua ausência que já reverbera na sala, na mesa, na vida vazia.
Ela, pressentindo que nada deixará de ser como sempre, mesmo com todo o esforço para afugentar a rasa ilusão que ele propõe, aceita; mais do que isso, espera.
Ele sabe, ela sabe, ambos conhecem as marcações do velho bolero, no rádio e na última gota de vinho que escorre no corpo da taça, solitária, deitada no amarelo-baço da luz do abajur da sala.
Ele canta, ela dança, embriagados, "dois pra lá, dois pra cá". Ele lá, ela cá.
Ele canta, ela dança, embriagados, "dois pra lá, dois pra cá". Ele lá, ela cá.
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