“- Vem comer, moleque, e larga
desse negócio aí”, gritava a mãe da cozinha
já com ar de cisma com o menino sentado na porta, à tarde toda, tentando
tirar som daquele “pau de música”.
A
flauta a que lhe passaram chamar “pau de música” veio do meio das catanças do lixão e, quando a
viu, branquinha ali reluzindo, não pôde mais deixá-la e começou a soprar e
sentir-se deliciado com o som doce e rouco que saía daquele objeto.
No começo ( e até, no meio também), era um som desordenado, umas notas sapecas saindo como quisessem. “ - Tem de por ordem nessa mixórdia, menino, senão todo mundo vai é ficar louco”, dizia seu Zé do Arrebite, o mecânico sanfoneiro que tocava nas festas de forró lá da vila.
No começo ( e até, no meio também), era um som desordenado, umas notas sapecas saindo como quisessem. “ - Tem de por ordem nessa mixórdia, menino, senão todo mundo vai é ficar louco”, dizia seu Zé do Arrebite, o mecânico sanfoneiro que tocava nas festas de forró lá da vila.
E o menino insistia em por ordem na confusão musical para desgosto da mãe. Preocupava-se a mulher de não ver o filho com os demais, mais ausente do que já era de seu feitio. No coração materno, pulsava um desconforto natural de não perceber, no garoto, as tendências comuns de todo menino: “Moleque sem paixão de brincar não dá boa coisa, não.”
Os sinais de homem que rodeavam os moços, não se evidenciavam da forma naturalmente “animal” nele. Enquanto os demais sonhavam com Brigitte Bardot em pelo, na tela enorme do cinema, era no gemido da flauta que o rapazinho devaneava seus mais ardentes sentidos eróticos. A mãe, de soslaio, só pensava “esse menino precisa de namorada, precisa de uma paixão”.
A teimosia de aprender por ordem nas notas daquela flauta fez nascer um homem com uma mania de reinventar harmonias de amor, que todo mundo, até sem saber, gostava de ouvir. Muitos usaram aquelas canções para embalar tantas histórias apaixonadas.
A flauta mágica do homem sem paixão o levou a muitos lugares. Por sua música cantada e soprada de um jeito simples, o mundo, por sabe lá que razão, amou aquele trovador e este amou o mundo inteiro com suas notas cândidas.

De olhos brilhantes de lágrimas pensava consigo: “pro meu filho, na vida, só faltou uma paixão.”. E fechava os olhos, com as mãos no peito, para beber da música de seu menino...
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