Fala para ele que eu não sou
dessas que se recusam ao que querem ou que dizem “não” com olhos de “sim”, pois
não sou de mensagens sub-reptícias: eu sou da folia, gosto escancarado e ao
sabor do vento e de melodias.
Fala para ele que não é falsa
impressão esse desejo que denuncio em meus trejeitos, que adoro beijo indecente
em fila de ônibus e que sou perdulária nas carícias.
Diga que não resisto a um pedido
de desculpas acompanhado de mãos atrevidas, que invadem por sob minha saia e
tocam com jeito de dono meu corpo que arde, alquimia desesperada de matéria fluida e desejo.
Pode falar que eu me apaixono
fácil, mas que me apaixono fundo e de um modo até ridículo, que elejo música tema,
deixo bilhetes em gavetas e adoto fetiches baratos.
Conta que aceito convites repentinos
de passar o tempo que nem tenho a seu lado, encaro amasso no cinema da sessão
do meio dia, abandono o trabalho e fico a noite inteira, na parte mais imunda
da cidade, sentada num bar, escutando com fogo nos olhos as histórias infinitas
de sua vida passada e futura. (Ah, e eu acredito em tudo, até mesmo que o homem
foi à Lua!)
Fala para ele dessa minha inteira
entrega e como estou louca por ele! Que fique sabendo que, quando ouço sua voz mansa
do outro lado da linha, saio apressada para a rua, isso mesmo, correndo de
salto fino ou de pijama, descabelada e alucinada e só respiro se o avisto à
minha espera, descuidado, como se não se lhe importasse a incerteza de minha
chegada (sempre certa), me enchendo de aflição e vontade.
Mas uma coisa, preste atenção, tem
de avisar certo a ele: diz que é fundamental deixar ser espontâneo e leve,
brisa refrescante da manhã. Diga que, só porque me tem toda, não pode vir tumultuar
a graça indolente do amor, retirando-lhe a alegria com calculadas ausências,
meias palavras e jogos de dúvidas insanas que tornam tudo inutilmente difícil. Para
isso, admito, eu sou muito preguiçosa e deixo o baile... vou pra outra
brincadeira.
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