quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Nua propriedade

 Ele me possui 

invade, sim, minha alma 

com seu corpo 


E, com sua posse, me evoca

o poder que tenho

para lhe emprestar 


Sob essa artimanha de trocas 

que ele aceita sem hesitar 

ele cumpre o que lhe concedo 


Ele me possui, 

me usa, frui 

nos estritos termos da lei

que eu livremente criei 


Ele me possui

só porque

ele não é dono de mim.








quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Valquyrias

 








Às vezes, de um jeito conhecido

Despropositada, enjoada

Eu sei do tecido destino

Estou com borboletas no estômago


Borboletas em meu estômago

Anunciam vendavais

Trazendo vertigens e medos

Borboletas causam estrondos  em mim


Vou ao trabalho. Vejo política

Sorrio de graças sem graça

Entro na loja oriental 

Compro tapetinhos de banheiro


Tudo faço para me desconcentrar

Dessas aladas maestrinas

Regentes de meu descompasso 

Entre razão e desejo


Eu já voei por esses prados

Ah, já sei aonde as tais me levam

Essas guias aleivosas

Que me desorientam o caminho


As mesmas trilhas de flores, cores

Promessas de sabores  no ar

Fazem-me  sempre acreditar

Que sou mais uma que tem asas

Vou


E breve como seus dias

Se dá  meu voo de alegria


E lá das flores, lá dos céus

Rindo, voo

Voo, rindo

Rindo, voo

Rindo, rindo


Vejo chão

Vejo no chão 

Dois pés

Meus pés 

No chão

 ...

Nem nas asas de meu sonho 

inconformado

Nem no estômago de volta  

A seu repouso imolado

Tudo de novo

De novo vazio

As borboletas se foram de mim