Havia a história de um homem gentil, de alma gentil, de sorriso, lábios, olhos gentis, cujo labor tinha a gentileza do prazer da mesa. E também a história dela, mulher gentil de olhos compassivos, que se encontrou com esse homem gentil.
Ambos viviam seu amor gentil, de seu modo gentil num mundo à volta que tendia a atropelar gentilezas.
Até que esse mundo realmente os atropelou e eles passaram a ser duas pessoas tristes, perdidas e gentis, no tal mundo moenda que, somente assim, os aceitou.
E o tempo moído nessa moenda se foi passando ao largo, claro, de qualquer gentileza... Tristes gentis!
Mas se cansaram de se verem tão gentis e melancólicos. No horário do almoço, num canto da praça, rodeados por pombos bicando farelos no chão, sussurraram, entre si, em gentil ousadia: " - Foda-se o mundo!". E riram baixando os olhos nessa contenção que brota de uma elegância de alma, genuína da figura gentil.
Foi um "foda-se", mas um "foda-se" sem ofender de fato ninguém, pois tão gentil que todo o mundo quase nem percebeu nem ouviu. (Foi para poucos que a poeira desse açúcar espargiu sobre instante espumoso; e para esses poucos, logo, logo, a vida retomou sendo a mesma com suas mesmas amarguras.).
Só ele e ela souberam - e lhes bastou - daquele definitivo despertar que os pôs de volta a si mesmos, a seu amor do jeito que eles sabiam amar, do seu modo de ser assim, pão e açúcar, gentil.
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