domingo, 29 de novembro de 2020

Negativo - Anti você

 



Hoje me vesti do jeito

que você não gostava

O chapéu, o vestido rodado

e os odiados sapatos

a dedos escolhidos


E lembrei dos dedos seus

deslizando em minhas pernas

quando os pés me descalçava 

E sua pele em meu corpo ...

(Disso eu sei que você gostava)


Hoje me vesti desse jeito

toda de você desvestida

E saí inédita, estranha

tão de mim estrangeira

num modo anti-você em mim

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Janela adentro



 No quadro da janela de meu quarto

há um mundo que não descansa

na noite fria em que brilha a lua

pálida de frio


Nesse mundo há as histórias 

que quero pintar nas linhas

deste caderno

com as caras iluminadas

por luzes frias mais que a noite


Mas as caras  que estão nas ruas 

mais claras que a lua fria

Estão no mundo em que não estou

e se apagam das histórias

do mundo nas linhas de meu caderno


E  nem a lua pousada na folha branca  

traz caras a suas histórias

Página cansada que descansa

oca como o quadro de minha janela

que tem o mundo na noite que não descansa




quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Partida

 

Era preciso ter a casa como sua

 para, enfim, deixá-la


Não sabia possuir

nada que pudesse ter como seu


Vivia nesse estado de ausência

e das perdas essenciais e comezinhas


Sempre pronta a carregar o adeus

em sua mala de partida

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

terça-feira, 10 de novembro de 2020

CRÕNICAS DO ASFALTO

 Sesc 24 de Maio, um mergulho no corpo e alma da cidade...sem filtros.





Fui convidada a conhecer o SESC 24 de Maio, por uma entrevista de um de seus arquitetos à Rádio USP. Quando ele não soube precisar quanto se gastou na obra para responder ao entrevistador, mas quando disse que poderia falar sobre a concepção construtiva do SESC 24, baseada em manter a feição do velho prédio da Mesbla, ressaltando o traço desafiador disso, numa cidade cujo perfil é do apagamento do "velho", da não preservação da memória, de sua História e cultura, do destruir pra começar de novo, pensei comigo " ali tem poesia, tem algo revelador!". E ele poeticamente falou da visão que o prédio oferece da cidade em seu Centro, vendo de cima, pelos vãos, de toda forma, além de oferecer um local de lazer e convivência popular, em região tão carente dessas "delicadezas".
Pois assim, embarcamos no sábado para conhecer o SESC 24 de Maio, que nos abriu as cortinas para uma São Paulo despudorada, nua, mostrando sua rudeza em corpo e alma. E não há como fugir desse exorcismo, asseguro, pois que essa alma de São Paulo pode ser vista tanto pelas janelas, que mostram a cidade excludente, desigual, degradada e rica, mas sempre pulsante, e pode ser conferida na exposição sobre sua História, arte, pessoas, sentimentos...tudo se confundindo com um bocado de cimento nas estruturas construtivas dos prédios e das gentes.
É bonito, ao modo paulistano de ser bonito. E é cru, no modo paulistano de se ser triste ou feliz ou de se ser sabe-se lá o que.