Passou a vida inteira a esperá-lo chegar... Ele nunca chegou.
Foi numa noite, depois de espichar a orelha para cinquenta elevadores em subidas e descidas que veio perceber que, na corda dessa espera de vem não vem, tremia seu coração, exposto, pesado, um só emaranhado de não vida. Era o destino tecendo agonia ou alegria no décimo de segundo entre o apertar do botão e o deslizar das cordas daquele vagão.
Desesperou-se como nunca, nesse dia. Era como se tivesse recebido a pior notícia do mundo, aquela sempre aguardada e nunca querida. Mas se sentia pronta como que tendo o pino da granada, tentadoramente, enroscado em seu dedo. O triunfo da verdade explodindo dentro de si como o impacto irreversível da bomba H no Japão. Aquele instante que muda tudo... E a opressão de seu peito, tão silente e deletéria, começou a desfazer-se na linha puxada de uma meada, que já trouxe tanta coisa e gente, na linha rodante de um elevador que trazia todos, menos ele que não vinha.
Ele nunca viria, compreendeu. Não mais esperaria.
Mas deixar de esperar também tinha seu preço. E ela que adquirira o hábito dessa espera, descobria que havia nela muitas outras. E o vazio dessa que deixava de existir se preenchia dessas tantas, porque, por hábito ou essência, era feita de esperar. Talvez, nunca tenha querido de fato que ele chegasse. Era uma espera só sua, que em nada mais tocava nele.
Soube assim que as linhas estavam, agora, em suas mãos e ela é quem teceria seu tempo, seu desejo, sua espera. Só dela.
Pôs-se na janela do apartamento, décimo segundo andar, estratégica altura de voar e de uma longa viagem de um elevador que não se sabe o que traz (ou se traz), mas que vai e vem carregando essencialmente esperas.
No entanto, com um sorriso no rosto, vestida de cor esperança, ao som da voz rouca de Belchior no aparelho sonoro, placidamente fitava o céu da noite se aprontando para o dia. Um radioso dia prometia aquele festejo da aurora. E ela se punha exultante a esperar quem nunca precisaria chegar.
Andares abaixo do seu, outra janela se fechava após a parada de um elevador, luzes se apagaram, um silêncio se instalou; lá também uma espera se findou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário