sábado, 16 de fevereiro de 2019

Sinto Falta





Sinto falta de Hilda
Sinto falta de Arthur
Gabriel também não anda 
anunciando o ar de sua graça
Violeta foi pro céu
Mario pousou longe, passarinho
Pablo virou cantiga de todos
Sinto falta de Adélia 
E da doçura de Cora
Olho pro céu e sinto o bafo do inferno 
na pedrinha no meu pé
Sinto falta de Júlio
Sinto falta do riso triste de Moacyr
Da dívida de vida de Clarice
Sinto falta de letras ágeis 
a me surpreenderem 
do meio de um be good
Sinto falta de Paulo
Sinto falta, sinto falta
Sinto falta de um país
E de um calado sabiá
Sinto falta de Gonçalves
de Alves, Álvares, 
Carolina, Cecília, Bruna 
De você, de mim
José, Carlos, Pilar
sinto falta de sonhar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Maria das Dores, abençoada.


De repente, ela sentia a dor conhecida, 
tal espasmo vindo do mais fundo de suas entranhas, 
embora no seu corpo carne essa sensação não se fizesse presente
nem no ventre, nem nos músculos a expulsar um feto.
Ela paria, agora, um outro filho, 
esse gestado em um continuado sentimento, todo dia fecundado, todo dia, 
desde aquele encontro do inaugural contato de olhos, 
desde os abraços renitentes de ninar e proteger, 
da boca a sugar seu leite de mãe, 
desde o ensinar os passos de andar...
Ela paria novamente. 
Era a dor conhecida do parto, 
do espanto da vida a revolver e renovar. 
Da mãe do filho nascia a mãe do pai.



(Foto via Mia Couto)