Eu, Daniel Blake é simplesmente um filme sensacional e nada indicado para pessoas com problemas cardíacos (refiro-me aos cardíacos dotados de humanidade, claro.).É forte.
A história trata de pessoas, de cidadania e de sistemas em que a atuação assistencial do governo é, ao mesmo tempo, nula e cruel, expondo pessoas fragilizadas a situações de humilhação, desamparo e desespero.
Eu, Daniel Blake traz todos os elementos da tragédia da cultura neoliberal, que põe o Estado como um senhor inalcançável, cheio de vontades e tratando os cidadãos como servos, quando na verdade o que deveria ser é justamente o contrário. É um filme oportuno, que desmistifica a questão da real necessidade sim do dever do Estado em garantir às pessoas o mínimo de dignidade que lhes permita continuar sentindo-se gente, cidadãs. Cá entre nós, ninguém sonha em entrar todo dia numa fila de famintos para receber um "caridoso" prato de comida para não morrer de fome. As pessoas querem comer, viver, escolher, ser felizes. E querem trabalhar dignamente ou receber seus merecidos auxílios financeiros, pagos por uma vida inteira, para assegurar as ocasiões em que se está impossibilitado de labutar.
O filme explica, nos faz sentir o que é viver sob o jugo de uma máquina estatal antissocial e burocrática, que agora se refugia na nova modalidade de exclusão, a digital, sob os humores de funcionários medíocres e assustados, de pessoas que pouco se importam, esquecendo-se que a maioria delas, em algum momento, vai estar no mesmo lugar daqueles que hoje espezinha. É inevitável fazer uma projeção com a situação atual do Brasil e as políticas reducionistas de direitos implementadas com as PECs do governo Temer.
É um filme que nos chama bem para perto porque fala dos nossos problemas. É um filme que, à medida que se desenvolve de jeito cru e magnífico, nos deixa cada vez mais grudados na poltrona do cinema nos fazendo constatar o quanto também somos nós, Daniel Blake. Tem de ter coragem de entrar nessa casa de espelhos.
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