segunda-feira, 20 de junho de 2016

A mesma rosa amarela(*)







Pensou ter muito demais daquela coisa e, porque a perdeu e partiu, sangrou toda essa perda indo no caminho de ir embora. E o sangue desse sangrar foi bagagem na sua caminhada, pesando, ardendo, desenhando para a frente uma esperança de regresso. 

E andou muito até que, um dia, já até sem querer, se viu de novo lá. Um sol brilhou, não aqueceu igual. E constatou que tudo era o mesmo, era mesmo o mesmo cheiro, a mesma cor, a mesma rosa amarela, que já não tinham mesmo o mesmo seu amor. 

"Tardei, tanto tardei?"- pensou consigo. Assobiou, olhou ao redor, sentiu que havia naquilo a lembrança do que foi, que mesmo viva, não harmonizava a busca e a espera com o que se reencontrou. E um vazio fundo mostrou que não se perdeu o algo, mas a trama da emoção nascida dele. Era um bebê parido que não regressaria de novo ao ventre. Era a saudade sem começo, sem causa primeira, inundação de fastio e de preguiça.

Agora, não via mais estrada diante dela, nenhuma busca, nenhuma dor, mais nenhuma espera...só e apenas aquilo que já não era.

Quisera ter de novo as quinze moedas brilhando nas mãos, uma passagem de ida de um trem e todos os sonhos no peito. E a rosa amarela sendo apenas um enfeite na lapela.


*Referência à música  A Mesma Rosa Amarela, de Capiba e Carlos Pena Filho.