quarta-feira, 4 de junho de 2014

DIÁRIO DE UMA PUTA AMOROSA







Com X houve um tempo de perfeição
que se foi com a paixão perdida
Restou apenas um prazer  
feito de ternura, corpo e memória
Dança diáfana de luxúria,
sendo de apenas um 
o resgate de uma história

Ele não notava: ela não estava  ali.

Com Y, homem socialmente enquadrado,
o sexo era forte
de macho esfomeado.
Ele a penetrava com vigor
Ela lhe entregava os gemidos
Papéis cumpridos.

Ambos sabiam:  ela não estava ali.

Com W o prazer era quase autêntico
feito de anos e poucas certezas
A carne trêmula, o corpo em exaustão,
amor devotado oferecido em bandeja
Ora ela se servia, ora não

Um deles percebia: ela nem sempre estava ali.

Com Z, por fim, sempre o desencanto
naquilo em que se buscava emoção.
Como flor que refloresce 
na mesma estação,
ela se abria,
semeando, extenuada,  a  sua poesia.

Ela sempre esquecia: ele nunca estava ali.

Quão incógnitas são as letras
da matemática da vida crua e nua

Pois se com letras só escrever se devia...
Fez, então, aquilo que mais sabia
E, ainda uma vez,  
sem  pudor,
reescreveu  o amor

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